2012/11/19

“Inimigo” por Diogo Burnay, 2012

“Traz Outro Amigo Também” José Afonso (1970) 



Como nos transformamos nos nossos melhores inimigos? 
Quanto, quando e como bifurcaram o ensino e a aprendizagem, a profissão e a disciplina, o pensar e o sentir? 
Temos uma forte tradição de um ensino fortemente enraizado no imaginário da sua relação com a profissão: o ser arquitecto, ligado à prática do atelier, ao estirador, ao desenho, ao projecto e à obra. 
O que é possível ensinar e aprender numa escola de arquitectura? 
Como se processou a aprendizagem de arquitectura ao longo de vários séculos nos ateliers-escola? Todos estes paradigmas têm estado em constante revolução. 

A estigmatização dos modelos de relação entre mestre e estudante e a proliferação de geografias, culturas, modos de ensinar, fazer projecto, exercer a profissão em múltiplas e díspares realidades sociais, económicas, políticas e culturais, têm possibilitado não apenas uma maior abertura do campo como também uma leitura mais crítica sobre o modo como se estrutura o ensino e se potencia a aprendizagem. 

O contacto com a profissão e com a comunidade têm de estar fortemente presentes no modo como as escolas procuram reforçar a sua pertinência social e cultural tanto nos seus contextos mais próximos como nos hemisférios que aparentemente lhes são mais distantes. A relevância social e cultural do modelo de ensino e aprendizagem será mais intensificada quanto mais capacidade tiver de se relacionar simultaneamente com questões locais e globais. 

O modelo de Bologna trouxe mobilidade física. Implica flexibilidade de escolhas. Obriga a maior rigor nas opções e no modo como se celebra a chama da vocação e se explora os seus caminhos. O mestrado integrado, através dos dois ciclos, terá que num futuro próximo equacionar o modo como se transita do primeiro para o segundo ciclo. Esta transição, para permitir uma verdadeira mobilidade intelectual e pedagógica, terá de ser feita através de uma candidatura com um portfólio, uma carta de motivações com referência aos temas de interesse a explorar no projecto de tese. No Reino Unido a entrada para o segundo ciclo só é possível após um ano de trabalho num contexto profissional. 

A Escola de Arquitectura da Universidade de Dalhousie, em Halifax, na província de Nova Escócia, no Canadá, na outra margem do Atlântico, tem uma longa tradição não exclusivamente digital de “hands on”, através do desenho e da construção de maquetes, e de proximidade com a comunidade profissional e com as comunidades que lhe estão próximas. 

Na Escola, existe desde 1991 um programa de design and build (projecto e construção) onde professores e estudantes em 2 semanas trabalham em conjunto, projectam e constroem para responder a um desejo e necessidade uma comunidade. 
Estas construções são também uma oportunidade para a comunidade escolar, professores e estudantes, poder trabalhar com maior proximidade das comunidades, para as pessoas que iram usufruir e utilizar o que se está a construir. 
Os estágios profissionais estão igualmente integrados no curricula do curso de arquitectura. 
Os estudantes candidatam-se ao curso de arquitectura após terem estudado no mínimo 2 anos em outros cursos com outras matérias de múltiplas disciplinas. 
A sua candidatura tanto para o Bacharelato como para o Mestrado, é constituída pelo seu curriculum académico e as respectivas classificações e um portfólio dos trabalhos efectuados pelo(a) candidato(a). Num total de 3 anos (Bacharelato) + 2 anos (Mestrado), os, os estudantes têm um estágio profissional de 3 meses no final do primeiro ano do bacharelato na escola. No final do primeiro do Mestrado, os estudantes têm um estágio profissional de 7 meses. Após esse segundo estágio, regressam à Escola para iniciarem o curso de preparação para a Tese. 

O projecto de tese proporciona aos estudantes a possibilidade de estabelecerem uma posição que revele a sua relevância para a disciplina de arquitectura. Deste modo, estaremos a contribuir mais efetivamente para que haja uma forte renovação do papel social do arquitecto, para o presente, o passado e o futuro. Estes são saltos conceptuais e operativos que todos temos que repensar, equacionar e fazer para que novos modelos de ensino possam também questionar, responder e celebrar novas condições sociais, económicas, políticas e culturais. 

A arquitectura, o seu ensino e sua aprendizagem são parte integrante da nossa vida.