2012/11/27

“Inimigo” por Henrique Pinho, 2012

“In order to predicte future, you have to invente it” 
Alan Kay 








Gráfico adaptado do livro, Andersen, Chris, 2007, A Cauda Longa, Lisboa: Actual editora

A missão dos arquitetos, hoje certamente está longe do que vamos ser amanhã, mas o que vamos ser amanhã se não visualizarmos um objectivo a alcançar a não ser apenas a nossa sobrevivência. 
A arquitetura existe porque o mercado, entenda-se pessoas, necessita e vai necessitar de profissionais na criação de espaços privados e públicos (não projetos do estado ou lançados pelo estado). 
 Em virtude de uma consolidação da economia mundial, vamos assistir a uma desaceleração global de todos os sectores de atividade, assumindo este cenário como um facto e não fugindo às evidências, vamos olhar para todo processo desde que alguém sonha ser Arquiteto até o ser. 

ENSINO 
Então o ensino terá de ser revolucionado, os futuros arquitetos não deverão sair formatados e em série, mas sim ser entidades únicas, fruto das suas opções e vontades. Deve ser permitido a todos a livre escolha, só assim se manterão atualizados e preparados para o mercado de trabalho, que muda todos os anos, não mais compatível com opções de 5 anos. 
Os docentes terão um papel de catalisadores neste processo, eles próprios com acesso a informação que lhes permite ver mais à frente, possibilitando propor novas abordagens, novos conceitos e partilhar isso com os estudantes. Esta é a razão da sua existência, partilhar e preparar o futuro. 
Se somos uma classe preparada para trabalhar em qualquer região do mundo e temos inequivocamente uma facilidade de adaptação a novas realidades, qual a razão das nossas escolas não nos prepararem efetivamente para a globalização. 

PRIMEIRO CONTATO PROFISSIONAL 
O estágio como forma de comprovar as habilitações não faz sentido, o percurso académico deverá ser suficiente. Acredito que os contatos no âmbito curricular com o mercado de trabalho como forma de adquirir experiência e lucidez são um factor de diferenciação e se forem escolhidos por opção do futuro arquiteto, tanto melhor.   

PROPOSTA DE HONORÁRIOS 
Mas agora perguntamos, quanto deve ganhar um arquiteto? Deve ganhar um proporcional ao valor acrescentado em determinado processo onde intervém. Se não adiciona valor, porque deve ganhar um proporcional? Não deve. Relevância, valor acrescentado, no final lucro, é aquilo que move o mercado não tenhamos ilusões. 
Por isso é tão importante o Arquiteto ser uma empresa, para ter uma visão global do mercado onde se insere, possuir competências de Marketing para ser marca, não ele, a empresa, Gestão para gerir, Direito para interpretar, propor e contestar a legislação, Gestão de Projeto para que o networking funcione e finalmente Arquiteto para fazer projeto e obra. Está claro que os ditos “vãos de escada” não devem existir, mas com as novas tecnologias e facilidades de comunicação a arquitetura pode funcionar como uma entidade em colaboração com outras, para qualquer parte do mundo. 
Não sou eu, somos nós. 
A Arquitetura tal como outras atividades tornou-se uma commodity, se não inovarmos ou adequarmos a oferta à procura ou à procura do que ainda não existe...sim, ainda existem necessidades por descobrir, não será aí que está o presente e o futuro papel do Arquiteto? 

LEGISLAÇÃO 
Tema fundamental para compreender o estado da profissão, total confusão. A legislação deveria ser integralmente refeita e simplificada, deveria ter em conta os interesses nacionais e não ser uma cópia de outras realidades. Deveria ser um meio de desenvolver a nossa industria e não a de um outro país, deveria ter em conta os nossos baixos recursos energéticos, não potenciando o consumo dos mesmos. 
O técnico deveria ser responsável pelas suas opções e não pelas suas e pelas dos outros. Os arquitetos devem participar na concepção e redação de toda a legislação inerente à profissão. O arquiteto político. 

ORDEM PROFISSIONAL 
Tal como a profissão, um modelo desatualizado, não tendo a pretensão de avaliar, constato a não existência de uma entidade que existe porque nós existimos e não o contrário. Será necessário encontrar um visionário que queira começar tudo de novo, com uma visão/projeto a dez anos no mínimo, não querer fazer tudo ao mesmo tempo, não ser populista ou demagogo, mas fazer o que é fundamental para que a profissão tenha futuro. Isso faz-se com um novo modelo de participação dos arquitetos, com a colaboração de quem está lá fora, fora do quadrado, sem ligações ou interesses, quem efetivamente está no território global. Somos poucos mas mesmo assim dividimos para reinar, cabe a todos nós acabar com este sentimento de incapacidade de fazer, sejamos fazedores. Por outro lado temos de ter a capacidade de aceitar que os novos desafios não são para todos, alguns vão ficar pelo caminho. 

REALIDADE 
Termino com uma provocação, quantos conhecem a teoria da cauda longa? Para mim uma verdadeira lição de um visionário, Chris Anderson, editor da revista Wired. 
Ele afirma e explica "porque que é que o futuro dos negócios é vender menos de mais produtos" (2006, Andersen).