2012/11/03

“Inimigo” por Paulo Costa, 2012

"O Inimigo da Terra"
Habitat, Natureza e Ética






Algures numa entrevista, ESM afirma que “a sustentabilidade deveria ser algo intrínseco à obra de arquitectura. Da mesma forma que a arquitectura pretende responder a problemas sociais e funcionais, deveria por si só ser sustentável”… Mas tão apriorística condição sine qua non verifica-se na prática? Em todas as práticas? 
Na prática, o que verifico é que o arquitecto inimigo da arquitectura busca condensar imagens, formalizações de aspirações a publicações, inspiradas em viagens e trips, no terreno ou na revista, no material ou no digital, mais do que apoiar-se em processos construtivos que fazem a leitura das reais condições do trabalho necessário, realizado com o mínimo necessário e o máximo proveito possível. “Less is more”, diz a t-shirt; a mesma que nas costas tem escrito “Shit happens!”. O que vejo - vezes demais para que não seja assustador - são realizações estéticas desprovidas de qualquer interesse num sentido ético ou numa perspectiva social e ambiental do ser Arquitecto. As preocupações visuais ocupam demasiadamente as sinapses de demasiados destes novos arquitectos que no espaço de uns meros 10 anos dilataram os números da Ordem de abaixo dos 10.000 para mais de 20.000, saídos de fábricas de arquitectos para as fileiras do desemprego (e já com o título de Mestres, não vá o cliente duvidar da competência; mestres que não sabem a diferença entre tijolo vazado e tijolo maciço... burro). 
E esta tendência faz escola. 
O mercado “auto-regula-se”: se é imagem que interessa é imagem que terão. 
As magazines proliferam. E os concursos promovidos por este e aquele site vendem a ilusão de se poder saltar para a ribalta dos starchitects da noite para o dia. 
E a indústria também agradece (ou parte dela, maioritariamente estrangeira) assim como as empresas que comercializam todo o tipo de gadgets ecológicos prontos a enfeitarem a posteriori ingénuos edifícios com uma sustentabilidade sobreposta, legitimados por regulamentos cheios de boas intenções com nomes premonitórios como ReSECE. 

Salubridade, economia e decência. 
Busquemos uma arquitectura que mais do que ser a materialização do sonho de um homem seja o suporte que permite os homens sonharem num mundo mais orgânico e equilibrado, que dê forma no presente a um futuro possível à medida das nossas possibilidades como povo e dos nossos anseios como colectivo. E talvez abrir portas a novas potencialidades arquitectónicas que de outro modo ficarão reduzidas como sempre às mãos dos tecnocratas. Não que me oponha ao que o desenvolvimento tecnológico e a pesquisa científica possam trazer ao campo da arquitectura; simplesmente porque o advento do FUTURO e o deslumbramento tecnológico foram as razões que nos trouxeram a este estado caótico da nossa existência pós-industrial. 

É possível encontrar novamente uma ligação equilibrada e ética entre Homem, habitat e natureza?