2012/11/19

“Inimigo” por Paulo Martins Barata, 2012

Eu, Arquitecto Suíço, me Confesso 



Dei recentemente uma conferência no Politécnico de Zurique. O leitor provavelmente desconhece o que esta escola representa para o mundo dos arquitectos, mas se lhe disser que é o monte Olimpo, não andarei longe da mística que lhe está associada. Os talentosos jovens de quem partiu o convite, Christ & Gantenbein, qual Perseus, são os eleitos de Herzog & de Meuron para geracionalmente perpetuarem esse grande milagre da arquitectura suíça.

No final do evento, trocamos impressões sobre os nossos ateliês e sobre as condições de trabalho. Visivelmente perturbado, Christoph Gantenbein explicou-me que o grande problema de trabalhar fora da Suíça eram os honorários. Referia-se à Noruega, onde tinha ficado em 2o lugar no concurso para o Museu Edvard Munch, e a outros cenários ainda mais difíceis de trabalhar, como a Alemanha e a Áustria (...!). Obviamente abstive-me de contrapor essa dura realidade à minha, mas lembrei-me do esgar de outro suíço notável, Peter Märkli, quando legitimamente, e perante os honorários para participar no projecto do L’And Vineyards, em Montemor, me perguntou: “Yes, Paulo. But can you eat? ...Can you buy bread?” A preocupação de Märkli, humanista e generoso, era genuína e era dirigida a mim. Ele acabou por participar, mas em nome do multiculturalismo, como o faria para um projecto de realojamento no Sudão ou de reordenamento de favelas em São Paulo. Apercebi-me então que habitávamos universos diferentes. A história do Olimpo era mesmo verdade, e que eles, deuses e semi-deuses, cercados por nós, comuns mortais, estavam também acantonados numa realidade que só existe nos Alpes, nas histórias da Heidi.

Paradoxalmente, qual é então, caro leitor, de todas as culturas, de todos os possíveis universos inspiracionais, aquela que os arquitectos portugueses elegeram como referência absoluta? A Suíça! Nós copiamos os suíços-alemães em todos as suas publicações, conceitos, citações, imaginários, maquetas e formas de representação. Os nossos arquitectos falam em “matéria”, “massa”, “essência”, “densidade” e “espessura” com a gravidade evangélica do Peter Zumthor, e organizam eventos chamados “swissport”, em plena Invicta, como se, num êxtase ecuménico, a tal Heidi abraçasse a nossa irmã Lúcia, e tudo ficasse bem. Porém, quero vos dizer que todo este amor não é verdadeiramente retribuído. Para lá de uma ou outra professorship temporariamente atribuída em nome da diversidade e dos edifícios de Siza e Souto na Novartis para preencher a obrigatória quota do sul, os suíços não têm um interesse genuíno pela nossa arquitectura. Acham-na excessivamente intuitiva e escultórica, — mesmo aquela que é pretensamente da “linha dura.” Não compreendem o canónico “processo do esquiço” da Escola do Porto e abominam as lápides sensuais do Siza do tipo: “o desenho é um desejo de inteligência.”

Apesar deste amor não correspondido, no país da UBS e do Credit Suisse, a hipótese de ganhar um concurso persegue-nos como uma espécie Euromilhões arquitectónico; afinal, não é lá que está a maior parte do nosso dinheiro offshore? Dai que o overdraft noutro banco, o banco de horas gasto pelos nossos juniores e estagiários em concursos helvéticos, comece, com alguma justiça, a perturbar a bondade sindical dos nossos “arquitectos malditos”, que são, em blog, o factotum comunista dos Arménios Carlos.
Independentemente do seu sinistro universo bancário e de todos esses dentes de ouro sem paradeiro, a Suíça é uma cultura de rigor e excelência. “They out-german the Germans,” preveniu-me em 1994, o artista alemão Ingo Gunther, em vésperas da minha partida para o Politécnico de Zurique. Mas não são nem o nosso passado, nem a nossa realidade, nem o nosso futuro. Num próximo artigo quero apresentar-vos um arquitecto de sucesso que está muito mais próximo de nós, da nossa cultura e dos nosso potencial. Ele é um homem novo. Chama-se Oliveira da Figueira e foi descoberto por um belga chamado Hergé, algures num barco ao largo da Mauritânia.


O Coma da “Arquitectura Portuguesa” 

Numa recente reportagem ao semanário “Sol”, o Presidente da Trienal de Arquitectura vaticina a extinção da “Arquitectura Portuguesa” e explica que, dada a sua enorme visibilidade na última Bienal de Veneza, o estado português perdeu mais uma oportunidade de capitalizar na exposição, chamar opinion makers e até “eventuais investidores” para a resgatar do coma profundo em que se encontra. Simultaneamente, Nuno Sampaio, Presidente de uma organização denominada “Estratégia Urbana”, refere ao “Público” que o pavilhão temporário a ser construído no Parque de Ibirapuera em São Paulo, projectado pela dupla de portuguesa de Pritzkers e certamente inaugurado pelo inefável barão Horta e Costa, será “um laboratório de inovação” que se inscreve em mais uma proposta de internacionalização da “Arquitectura Portuguesa” no Brasil. Sampaio sugere ainda que, esgotada a capacidade do estado pagar mais escolas, centros culturais e piscinas municipais, o Portugal arquitectónico está finalmente em condições de mudar de ciclo e apostar em novos mercados.

O desnorte e equívoco subjacente a ambas as declarações, faz-me lembrar o famoso e ébrio dislate de Jackson Pollock numa soireé de Peggy Guggenheim: “...so if I’m so fucking great why doesn’t anybody buy my paintings?” Antes do estertor final, estas catarses culturais fazem parte da dificuldade em reconhecer que a “Arquitectura Portuguesa” nos moldes em que existe não é exportável, apesar dos imensos prémios e laudatória que recolhe (ainda que muita dela em circuito fechado). A “Arquitectura Portuguesa” aquartelou-se numa clique da qual apenas por pudor me abstenho de enumerar a insofismável lista de autores obrigatórios, e que é incapaz de trabalhar sob os códigos daquele que é o único modelo internacional de projecto consistentemente exportável: “service providing.” Os ingleses, os escandinavos, os americanos e até os alemães, com ou sem “sangue azul”, à décadas que perceberam isto, e todas as implicações que lhe estão associadas: não são autores; são prestadores de serviços. Pelas diferentes latitudes que percorro, vejo ateliês de arquitectura - que podiam ser portugueses - a trabalhar e a angariar projectos. Nós continuamos olimpicamente à espera do estado para apoios à internacionalização, e vemos o Siza e o Souto de Moura a queixarem-se que já não têm trabalho com as câmaras municipais. Ao fim de décadas a receberem adjudicações directas do estado português acordam para a dura realidade de que o trabalho não lhes vem bater à porta. E daí? O “sir” David Chipperfield, admirável comissário da dita Bienal, desde os anos 80 que anda de mochila às costas à procura de trabalho da Alemanha ao Japão e EUA.

Na verdade, dita Arquitectura Portuguesa, “...chegou já cadáver a São Paulo,” como diria um GNR de piquete, e nada pode ser feito para a reanimar nos moldes em que existe. A arquitectura só residualmente é “exportável” como um produto cultural. No modelo dominante anglo-saxónico, aquilo que se exporta é conhecimento estratégico, comercial e técnico. Por outro lado, os chamados “mercados naturais portugueses,” serão óptimos para exportar calçado, azeite e enchidos, mas tenho mais dúvidas em relação à prestação de serviços. Com raras excepções, verifica-se que, se uma empresa de projecto for corporativamente fluente em inglês, a língua portuguesa pode até tornar-se uma desvantagem pela informalidade que promove. E no capítulo da informalidade, o Brasil bate todos os recordes, com projectos básicos, honorários ridículos e sempre pagos com enorme criatividade contabilística.

“O mundo mudou”, disse um dia Sócrates. Nós, palermas, achámos que o homem estava a brincar, mas com a hecatombe imobiliário ibérico – da qual só sairemos na próxima década –, o problema da exportação de serviços tornou-se uma questão de sobrevivência. Aos arquitectos portugueses exige-se uma nova abordagem: desempoeirada, sistemática, agressiva e entusiasta. Falta modéstia, ousadia e perspicácia, mas existe talento, criatividade e sedução.

Paulo Martins Barata é Arquitecto em Doha e Lisboa.


ABC da Internacionalização

“Arquitectura Portuguesa” 

Não vão atrás deste fado. O fado dos “grandes arquitectos portugueses” começa a ter ressonâncias de embuste do Estado Novo, no seu carácter trágico-épico, e interessa apenas e quase exclusivamente eles próprios. Não se promovam como “portuguese architects”; mas sim como “Lisbon-based” ou “Porto-based architecture office.” Na hora de assinar contractos, o “risco-país” de Portugal, o tal rating BB da S&P, assusta os clientes e as garantias bancárias —quando são exigidas—, têm custos explosivos. A ilusão de que ser publicado e dar conferências no estrangeiro, era quase o mesmo que construir, criou uma ficção de “internacionalidade” que agora cai por terra apesar de toda a laudatória. Por outro lado, há algo de extremamente paternalista nesta ideia da arquitectura ter uma proveniência nacional especifica. Não vejo vantagem ou sequer um sentido estratégico óbvio. 

Ambiente Anglo-saxónico vs. Ambiente bilingue 

Pela mesma razão, esqueçam sites e modelos de comunicação bilingues (EN/PT). Novamente o fado da portugalidade; quem quiser que o compre. O mundo dos serviços é por natureza anglo-saxónico; o verdadeiro Esperanto é hoje o inglês. Qualquer desvio dessa norma, gera desconforto no mundo dos serviços. Nesse mundo, o arquitecto é um “Consultant.” Lá em casa, na universidade ou nas revistas pode ser “autor”, “criador” ou aquilo que se quiser. Neste mundo, que inclui a Índia, a China, os países Árabes e partes substanciais de África, fala-se inglês e todas as outras línguas nacionais, incluindo o Mandarim, são “línguas locais.” 

Códigos de Comunicação 

Assumindo que já deixamos para trás a Portugalidade e todos os seus mitos, um Estudo Prévio passa então a ser um “Concept Design”, um Projecto Base é um “Design Development”, e o bom e velho Projecto de Execução é “Detail Design” ou “Construction Documents.” Quando acrescida das medições (Bill of Quantities) e do orçamento, o “Quantity Surveying” ou “QS”, passa a “Tender Documents.” Estas e tantas outras minudências, têm que ser apreendidas e agilizadas para vender serviços de projecto. De mesma forma a nossa proposta de honorários, passa a ser um “Consultancy Agreement”. O nosso seguro de projecto é um P.I.I. (Professional Indemnity Insurance). Os R.F.P. (Request for Proposal), R.F.Q. (Request for Quotation), os E.O.I. (Expression of Interest), os E.O.T (Extension of Time), os M.O.U. (Memorandum of Understanding), os Confidentiality Agreements, e tantas outras designações têm que fazer parte das rotinas dos ateliês. Os ingleses e os americanos, respectivamente através do RIBA e do AIA encarregaram-se de estabelecer as bitolas de todo este sistema. Um conselho: não percam tempo a aprender as outras. 

Especialização e Diversificação 

Há áreas de projecto que são universalmente reconhecidas como especializadas. Nomeadamente, hospitais, centros comerciais, estádios e aeroportos. Nalguns casos, os auditórios e grandes salas de espectáculos também entram nesta categoria, bem como a hotelaria especializada para cadeias internacionais (e.g. Four Seasons, Starwood, IHG, Hilton, etc). Nestas áreas os clientes aceitam pagar um prémio pelo know-how dos projectistas ou pelo menos raramente atribuem adjudicações a arquitectos que não o têm. Os jovens arquitectos deviam procurar formação neste tipo de áreas, particularmente na saúde e hospitais onde a procura vai ser crescente e cada vez mais exigente. Os ateliês devem procurar concentrar esforços para criar portfólios que permitam esta diversificação.

Ganhar Escala 

Um vão de escada muito grande, continua a ser um vão de escada. A “Arquitectura Portuguesa” vive obsessivamente o tema da autoria, como se o mundo parasse em êxtase a cada novo penico dos Guerras. Por isso é incapaz de criar algo que ultrapasse a micro-estrutura de 3 a 5 pessoas. Quando há trabalho, atinge 15 ou 20, mas continua com procedimentos empresariais de 5 pessoas. Porém, é economicamente inviável exportar os serviços de micro-empresas, por mais brilhantes que estas sejam. O que poderia parecer uma vantagem, pela sua eventual flexibilidade (“small is beautiful,” etc.), é afinal apenas pobre e miserabilista. A única hipótese de sobrevivência dos ateliês é fundirem-se e criarem empresas maiores e mais sólidas. Sem um mínimo de 30 ou 40 pessoas é impossível exportar serviços internacionalmente de uma forma consistente. 

ABC do Marketing 

A ideia de que o marketing do arquitecto são os seus próprios trabalhos, publicações e conferências passou à historia. Exigem-se agora níveis de agressividade e assertividade inteiramente diferentes, mesmo da parte dos grandes ateliês internacionais cheios de “sangue azul”. É necessário identificar os mercados e ir até eles repetidamente. Existe efectivamente necessidade de projecto no Camboja, no Vietname, na Tailândia, na Indonésia, na Arábia Saudita, no Qatar, na Rússia, nos Kasaquistões, nos Azerbaijões, nas Mongólias, em partes substanciais de África e em todo o Magreb. É necessário a montante fazer um trabalho de back-office a identificar oportunidades e potenciais clientes, marcar entrevistas com antecipação e fazer follow-up passado pouco tempo, para que não se caia no esquecimento. É necessário ir a feiras de imobiliário (escolher com muito cuidado para evitar barretes) com uma agenda organizada de apresentações, e também aí, fazer posteriormente um follow-up. Na maior parte dos casos, a relação com os futuros clientes leva meses/anos a consolidar-se e exige a presença in-situ de um sócio (partner) de forma recorrente, mês após mês, quinzena após quinzena. Nada disto tem glamour; nos dias que correm, tudo isto se passa com viagens em económica e hotéis de 3 estrelas. Aliás, no limite trata-se de um teste de resistência ou de um entediante jogo de paciência. Mas ainda assim, penso que este front-office de marketing é um trabalho que não pode ser feito por terceiros... não se pode encomendar a um “vendedor profissional” para que o faça por nós. A razão prende-se com o facto da maior parte das reuniões serem com os próprios directores das empresas e que normalmente esperam este primeiro encontro seja o prenúncio de uma relação directa com o arquitecto.

Streetwise 

A crise chegou a todo o lado, e a verdade é que, embora não seja tão dramática como em Portugal, existe internacionalmente um excesso de oferta de projectistas. Também por isso, não é só em Portugal que os promotores tentam que o trabalho “tentativo” ou “exploratório” seja por conta e risco dos arquitectos. Cabe ao próprio discernir até que ponto e em que medida quer investir nesse esforço de “marketing”. Aí é sempre preciso saber fazer muito com pouco, dar apenas meias soluções, esboçetos vagos mas atraentes; enfim, provocar a necessidade de gerar um contracto. É uma arte, acreditem. Mais do que nunca, os arquitectos são chamados avaliar a seriedade do (potencial) cliente que têm pela frente, mas desta feita sem o sistema local de relações pessoais ou profissionais que anteriormente lhe permitiria fazer essa triagem com relativa tranquilidade. Principalmente nos países em desenvolvimento, os “piratas” e “franco-atiradores” abundam. Junta-se a isto um universo de artimanhas de “decision-maker events” e “one-on-one business meetings” que jorram para dentro dos ateliês com promessas irrecusáveis a partir de call-centres em Bangalore e que sempre levam atrás os mais incautos. Toda a aldrabice é possível; recentemente recebi um telefonema de um Philippe de Rotschild a convidar-me para uma conferência privada com investment bankers suíços em Miami; dá para acreditar? 

Geografia e Destinos 

Não disparem para todo o lado e em todas as direcções. Os nossos recursos são muito escassos e o condicionamento geográfico é grande. Pessoalmente, e como já expliquei anteriormente, sou bastante céptico em relação aos “destinos naturais portugueses”. Acho que a proximidade da língua gera informalidade e a própria concorrência imposta pelos portugueses é suficiente para degradar as condições de comerciais. Por outro lado, tradicionalmente os mercados anglo-saxónicos sempre remunerarão melhor os serviços (foram eles que os inventaram...). Procurem fixar uma zona ou uma região, e tentem explora-la a fundo, e.g. saber quem são os players, quem poderão ser os parceiros locais, conhecer a economia e as empresas mais interessantes, os sistemas de licenciamento, etc. Uma vez identificado o destino, procurem manter uma presença forte e sistemática, voltando recorrentemente. A perseverança tende a ser recompensada. 

Comunicação do Ateliê 

A dimensão e recursos dos ateliês portugueses deve obrigar a um cuidado redobrado com a imagem. O site deve ser simples e de fácil comunicação (evitar Helvetica Light Very Thin corpo 3), e as imagens deve ter um tamanho razoável, mas não tão grande que crie bloqueios. Existe hoje um enorme escrutínio através da net, por isso o site deve estar a ser constantemente actualizado: é preferível não ter Facebook ou Twitter, mas ter um site actualizado, do que pulverizar os recursos de forma incompleta em muitas redes. O LinkedIn da empresa e de todos os colaboradores é obrigatório; antes de entrar numa reunião procuro sempre o perfil da pessoa com quem me vou reunir no LinkedIn —é razoável supor que os clientes façam o mesmo sobre nós. O grafismo, o nome, o logo e as designações acessórias, uma vez escolhidas e definidas, devem ser apenas evolutivamente adaptados, como a garrafa da Coca-Cola. Caso contrário gera uma esquizofrenia de identidade que os clientes não só não percebem, como nem sequer a retêm. O estacionário deve comunicar uma ideia de empresa e não de “incompreendido artista solitário”; deve ter todos os dados completos da empresa —os alemães até o número da conta bancária põem—, e as diferentes valências. O material de apresentação, principalmente o PowerPoint de apresentação da empresa, deve ser claro e eficaz na gestão das imagens e do tempo disponível. Numa apresentação, o primeiro bocejo (ou o olhar para o relógio) de não deve aparecer antes de volvidos 15 minutos (recomenda-se ensaiar antes). 

Comunicação do Projecto 

A actual “escola portuguesa” em termos de representação do projecto é decalcada da Suíça e serve apenas para publicação de projectos em revistas, ou para parecermos mais Suíços que os próprios Suíços nos concursos Suíços. Um cliente não especializado, ou simplesmente com um menor grau de sofisticação gráfica, fica imediatamente perdido com as plantas em linha .001mm e as inqualificáveis axonometrias explodidas. Cabe aos arquitectos facilitar este esforço de aproximação ao decisor, através da representação. Não é por acaso que, na hora de comunicar, as empresas americanas usam desenhos aguarelados, plantas humanizadas em treme-treme e outras manigâncias de enorme eficácia. Fazem-se brochuras de conceito, graficamente sofisticadas com imagens de referência criteriosamente seleccionadas (não, não é a escultura do Serra, a fotografia do Dan Graham ou a casa do Matta-Clark).

Ampliar a oferta 

Apesar de todas as suas fragilidades, a Arquitectura é uma área de mais fácil internacionalização que a Engenharia. Na angariação, a Arquitectura vai sempre à frente. Não vale por isso a pena voltar à ideia dos mega-consórcios de arquitectura/engenharia como as “profabris” dos anos 60-70. Porém, há 4 áreas complementares que os ateliês de arquitectura devem incorporar (e explicitar) na própria empresa com grandes vantagens estratégicas e comerciais. A saber: Master Planning (Urbanismo), Landscaping (Paisagismo), Interior Design (Interiores), Graphics (Grafismo). A ideia de caso-a-caso chamar um paisagista ou um designer gráfico “para integrar a equipa” a cada projecto, é algo de difícil gestão em termos internacionais. Podem-se acrescentar outras valências, por graça, e.g. Product Design (Desenho Industrial), mas já não são nucleares da actividade e podem acabar por parecer amadorísticas, se não houver um efectivo know-how associado. Uma nota sobre o Interior Design, que em Portugal os arquitectos sempre obstinadamente assumiram que sabiam melhor que ninguém, —porque até desenhavam mobiliário e escolhiam cadeiras do Arne Jacobsen, hoje já actualizadas para Hans Wegner. Relegado em Portugal para as decoradoras, o Interior Design ficou completamente à margem dos arquitectos. A verdade é que é uma área altamente especializada e que tem hoje os seus próprios heróis —raramente arquitectos. Mas admitindo que hoje a maior parte dos edifícios, —mesmo os de arquitectos famosos—, são entregues em core-and-shell (até museus...!) e que de seguida se convida um Interior Designer, não fará sentido criar essa valência internamente de forma desempoeirada, inteligente e profissional para oferecer aquilo que contratualmente se chamam “Full Design Services”? 

Não contém com ninguém 

Não esperem apoios de QREN, não contactem o delegado do AICEP local para vos dar pistas, não contactem a vossa embaixada, não percam tempo a fazer “teaming up” com as construtoras portuguesas, não se inscrevam em câmaras de comércio, nem tentem fazer protocolos com a universidade. Não esperem nada do governo, nem do país. E não se esqueçam que a Arquitectura vai sempre à frente. Que foi que disse o Padre António Vieira? “Se servistes a pátria que Vos foi ingrata, Vós fizestes o que devíeis, Ela o que costuma.”